sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Beira, quem te vê!!!!!

Quanto à mim, mesmo antes de se contabilizar todos os votos do município da Beira não há dúvidas que o grande vencedor das eleições autárquicas de 19 de Novembro é o candidato independente Deviz Simango.
Simango enfrentou duas formidáveis máquinas políticas e ganhou: a Frelimo e a Renamo (contudo, pode-se disputar se a Renamo é uma formidável máquina política). É sobejamente sabido que até recentemente Simango era o presidente do município da Beira, um feito conseguido através da lista da Renamo e supunha-se que fosse o candidato da perdiz para a sua própria sucessão. Todavia, as famigeradas bases da Renamo decidiram que Simango já tinha feito muito pela Beira, pelo que tinha que ceder a sua candidatura à Manuel Perreira.
Esse episódio foi tão mal gerida que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, nem teve a coragem de sequer ir à Beira (onde se diga sempre foi recebido com honras de Chefe de Estado desde que Simango subiu à cadeira de presidente do município) para pelo menos explicar o porquê fez um “U Turn (reviravolta)” no dia 21 de Agosto, ou mesmo ir ajudar o coitado de Perreira a fazer a sua campanha.
Bem, o Dr Carlos Serra escreve aqui que Deviz Simango amealhou 62% do voto popular, contra 31% do homem de negócios Lourenço Bulha da Frelimo. Manuel Perreira aparece num distante terceiro lugar. No tocante à Assembleia Municipal, com 60% dos votos contados, a Frelimo parece ter finalmente passado da oposição para o partido mais votado, embora sem ter conseguido ultrapassar a fasquia dos 50%, com apenas 20 assentos, trocando o seu lugar com a Renamo que parece ter conseguido 16, o Grupo para Democracia na Beira (GDB) 7, sendo que o PIMO e o PDD de Raúl Domingos ficam com um assento cada – estes últimos três aparecem como os “king-makers (desempatadores)” (vide Mozambique Political Process Bulletin 13 – 21 Nov).
Analistas acreditam que Simango terá dificuldades em governar na autarquia da Beira. Esta é de certo uma hipótese que não se pode descartar tanto não seja porque ambas a Frelimo e a Renamo fizeram um pacto “contra natura” – não é minha expressão – para evitar a re-eleição de Simango. Não nos esqueçamos que o propangandista-mor da Frelimo, Edson Macuacua, disse durante a camoanha que a vitória de Simango seria uma catástrofe.
Mas acredito que tanto a Frelimo como a Renamo terão de crescer a irem para além dos seus próprios interesses se quiserem que em 2013 os beirenses os confiem. Se quisermos esticar a corda, podemos dizer que mesmo o próprio Deviz Simango terá de crescer para conseguir navegar a Assembleia, começando pela aprovação do seu orçamento.
Porquê terão que todos crescer? A história da Beira fica clara quando se repara pormenorizadamente para os números. Com 75% dos votos contados, Simango tinha 54,449 contra 36,698 de Bulha. A Frelimo andava um pouco acima dos 30,000, e a Renamo vinha logo a seguir com menos. Simango tinha portanto mais votos que os dois somados (esses números ainda são provisórios, mas me parece que a Frelimo não conseguirá igualar ou ultrapassar os votos conseguidos por Lourenço Bulha), mesmo porque tanto o GDB, PIMO e PDD ainda estão a contabilizar.
Se compararmos os votos de Bulha com os da Frelimo podemos ver que Simango não só teve o apoio de alguns simpatizantes da Renamo, como teve também os teve de apoiantes da Frelimo. Como explicar, por exemplo, que tivesse conseguido ganhar na zona de cimento onde a Renamo nunca conseguiu suplantar a Frelimo?
Sendo que, uma outra hipótese pode também ser válida. Apesar dos dois maiores partidos poderem ser tentados a usar a ditadura de voto para emperrar a acção governativa de Simango, os números parecem mostrar que Deviz Simango é o mandatário do povo e como tal, terão (os dois) que saber escutar a voz desse mesmo povo e deixar o engenheiro implementar o seu manifesto.
Sim, sem sombras de dúvidas haverá muita acomodação, mas o povo votou no manifesto de Simango e será esse o que determinará o quadro de governação. E me parece que essa tese ganha mais força quando se tem os três desampatadores nas alas para “sugerirem” o trajecto do município, sobretudo o GDB que surge do movimento de apoio à candidatura do actual edil.
O que nos resta ver é se na Beira será “politics as usual (política como sempre)” ou haverá a realização de que tem de se governar em função do que o povo quer?

9 comentários:

  1. Aló B. Valy, Já imaginou se os Moçambicanos fosse como os beirenses? eu acho Moçambique já estaria nos patamares dos EUA... ahahah

    Voltando ao que nos levanta E. Macamo foi céptico quanto à candidatura do D. Simango na Beira como independente e adjectivou de "cínico" ao edil da Beira e tantos outros discordaram com a ideia da candidatura desse como independente, há vezes que o que tem sido prática não deve nos preocupar em derternimento do que devia ser, Beira é um exemplo de disciplina popular para com os políticos penso que os Partidos políticos deviam aprender com as eleições de 19/11/08. Quano ao Simango, Valy precisa de ver que este é tão maduro que preferiu ceder a vontade popular e candidatou se como independente e acredito que o fará quanto ao seu manifesto só tenho dúvida quanto aos "patronos do poder"! RENAMO e FRELIMO. o que diz de ponos de vistas do último domingo no que se refere a este ponto?

    abraços

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  2. caro chacate joaquim, deixe-me rectificar uma coisa. fui de facto céptico em relação à candidatura de simango por achar que pudesse vir a favorecer os seus adversários políticos. aventei uma hipótese. como quase sempre. achei cínico dizer que se candidata pela renamo quando a própria renamo (a direcção) havia indicado outra pessoa. só isso. a julgar pelos resultados, parece tratar-se de uma vitória pírrica, mas o tempo, como sempre, dirá. bayano, eu acho que o grande vencedor destas eleições foi a frelimo e que o grande vencido foi a renamo, senão mesmo a democracia no país. simango derrotou a renamo. a sensação teria sido uma vitória de bulha ou de pereira. abraços

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  3. Segundo Sixpense no semanario Domingo, Simango ganhou porque (1) apoderou-se das realizacoes do governo central no municipio da Beira e (2) por que o povo quis castigar a Renamo por ter "marginalizado" Deviz. Isso para mim constitui um insulto a capacidade dos beirense de analizar a vida da sua cidade. Porque sera que o governo central so agora que Deviz e Renamo subiram ao poleiro decidiram desenvolver a Beira de forma tao visivel a ponto do povo acreditar que foi esforco de Deviz?
    Dizer isso 'e considerar o eleitor Beirense mais tolo do que se se deixasse levar pelos discursos eleitorais.

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  4. caro nelson, acho que a crítica que faz tem toda a sua razão de ser. na verdade, está a levantar o problema da pressa nas nossas análises de fenómenos sociais sem o devido cuidado com os dados empíricos. não sei, contudo, se iria consigo na ideia de que a análise de sixpence constituiria um insulto à capacidade dos beirenses de analisar a vida da sua cidade. creio haver uma certa plausibilidade no que o sixpence diz e que até constituiria um bom atestado a simango e aos beirenses. por exemplo, pode ser que em resultado da prestação de simango e da renamo o governo central se tivesse visto obrigado a investir mais esforços nessa cidade sem, contudo, colher os louros porque simango conseguiu apresentar tudo isso como resultado do seu trabalho. aqui seria interessante fazer estudos empiricamente sólidos. onde a conjentura de sixpence me parece mais aventureira é quando fala de punição a renamo por ter "marginalizado" simango. isso implicaria, logicamente, que os beirenses estivessem satisfeitos com simango pelo que a explicação não seria a atitude da renamo, mas sim o trabalho do edil e a percepção desse trabalho pelo eleitor. o que acho interessante, pessoalmente, é o apesar de tudo bom desempenho da renamo ao nível partidário o que levanta a questão da distribuição social e local do voto nesse município.

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  5. Caro Bayano!
    Como sempre, uma excelente analise! E' verdade que a vitoria de Deviz e' o acontecimento politico de momento. Ela derrotou o status-quo habitual, apesar de alguns nao quererem aceitar! Mas todos, e principalmente os politicos desta nacao deveriam aprender dos eventos do Chiveve! Bons autarcas podem pertencer a qualquer partido; e o povo, da sua origem, nao se importa! Aqueles que mostram servico, sao facilmente reconhecidos e retribuidos pelo voto! Essa consciencia de cidadania, de defesa dos seus interesses, esta' a crescer a passos galopantes, nesta perola do indico!
    A questao do "record" e "realizacoes" comecaram a ser elementos importantes na decisao de voto e aqueles que simplesmente as ignorarem, serao penalizados a medida!

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  6. caros,
    andei fora das nossas fronteiras e encontrava-me sequestrado num local onde não conseguia aceder à internet via wifi, dai que, não pude acompanhar o debate, e nem pude actualizar a página.

    chacate, acho que beira é um estudo de caso. devíamos tentar entender muita coisa sobre beira. não sou conhecedor do dia-a-dia beirense, mas seja lá o que for, não me parece que hajam muitas dúvidas que beira merece estudos profundos.
    elísio, acho que a vitória da frelimo não me parece revestida de tamanha importância quanto a vitória de deviz. já se prognosticava-se o "clean slate" da frelimo, e acabou acontecendo. por isso, quando digo que o grande vencedor foi o simango refiro-me mais ao simbolismo de que a sua vitória está revestida. repare que foi contra dois grandes "juggernauts", e saíu vitorioso.
    nelson, achei interessante o sixpence ter corrido a fazer as suas análises quando na edição antes das eleições teve cinco páginas (incluindo os relatos dos seus colegas) e não havia menção do deviz - foi obliterado e não existia. mesmo as fotos publicadas; preferiram repetir as do candidato bulha e nenhuma de deviz.
    jonathan, de facto a questão de elavação da nossa consciência de cidadania é muito importante e quero crer que foi isso que aconteceu na beira. pelo menos, os amigos beirenses com quem falei diziam que o que importava era reconduzir o simango pelos seus feitos.

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  7. Desde as primeiras horas discuti sobre a candidatura independente de Daviz Simango no Diário de um sociólogo como no meu próprio e conjecturava uma vitória dele sobre o Pereira e Bulha. E se Daviz Simango não vencesse ao Bulha, pelo menos teria vencido esmagadamente a Pereira. Depois de Daviz ter sido preterido e antes da sua candidatura independente eu previa uma vitória esmagadora de Lourenco Bulha a Manuel Pereira. E, isto podemos comparar com os 42 municípios. Portanto, que ele candidatava-se para travar a governacão de Lourenco Bulha tinha lógica.

    Duvidei bastante do ceptismo de alguns, pois a Frelimo sobretudo manifestou que estava com um osso difícil de roer a avaliar pela máquina enviada para Beira e toda a propaganda. A Renamo-Mbararano ou AD deve ter se apercebido que não era para piar com, mas também tentou tudo por tudo. Os dois que passaram a denominar-se por Frenamo até recorreram calúnias envolvendo a PGR, depois foi a vez do governo provincial a tentar tudo por tudo para travar a marcha rumo à vitória.

    Concordo contigo Bayano quanto a Sixpence. O engracado de tal Sixpence do Domingo e toda a imprensa pública incluindo a RM é de ter omitido Daviz Simango durante a campanha eleitoral. Outro aspecto, é de os que julgaram que Daviz apoderou-se das realizacões do governo central, nunca terem alegado isto quando ele [Daviz] somava prémios e elogios pela boa governacão. Portanto, concordo com o Nelson que tais alegacões foram um insulto aos beirenses e mesmo todos aqueles que durante os cinco anos consideraram de excelente a governacão de Daviz.

    Por outro lado, as alegacões de Edson Macuácua, Filipe Paúnde e do governo provincial de Sofala, deviam obrigar-nos a interrogar se o dinheiro alocado na Beira foi do partido e a accão foi um favor.

    Não posso deixar de concordar com Bayano que o grande vencedor destas eleicões é Daviz Simango, porque para além da grande batalha ter sido na Beira, ele obteve uma vitória histórica e libertou as nossas consciências de cidadania, roubando a tua expressão Jonathan e aprendemos que o povo tem poder.

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  8. Eh, meus caros, a Beira merece um "study case, mas mesmo antes disso...lembrem se que os senas e Ndaus tinham a fama de demasiado contestatarios, mesmo na altura do colonialismo...teriamos de fazer imensas equipas de especialistas p estudar o assunto la, porque eh dose!!! Historiadosres, antropologos, sociologos, politicos ans so ones, sao mais do que necessarios.
    ...Sabera alguem explicar me porque eh que os curandeiros (nyangas) so falam Ndau e uma outra lingua zimbabweana de que nao me lembro? (e olhem que Zimbabwe eh ali ao lado)!!!

    SJ, bom final de semna, rapazes!

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  9. cara sj,
    colocas uma questão interessante. hei-de consultar um amigo antropólogo e depois venho com algo.

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