Em Moçambique arrancou hoje a campanha eleitoral para as eleições municipais de 19 de Novembro, a serem realizadas em 43 municípios do país. Nos Estados Unidos da América, cai hoje o pano sobre os 22 meses de campanha eleitoral (primárias e presidenciais). As eleições dos EUA já foram consideradas históricas por muitos, pelo que, não vou por ai.
Olho mais para as eleições presidenciais nos EUA sob o ponto de vista jornalístico. Afortunado por poder ler e escrever inglês como um nativo, pude a partir do computador e celular percorrer os EUA e colocar-me a par do que acontecia a cada momento. Fiquei nostálgico quando se fazia menção de alguma cidade ou marco importante da qualquer um dos quatro estados (Kansas, Los Angeles, Michigan e Washington DC) que já visitei.
Fui exposto aos mais diversos géneros jornalísticos e penso que, pessoalmente, sai a ganhar com isso. Como é que haveria de saber sobre a avó (paz à sua alma) de Barack Obama ou do pai e avô do John McCain não fosse o jornalismo biográfico? Não fosse o jornalismo económico, como saberia que cada voto presidencial valerá $80 (se 130 milhões de eleitores votarem) em função do dinheiro angariado? Não fosse o jornalismo jurídico, não teria ficado atraido à discussão constitucional sobre o mandato do vice-presidente; alguém saberia com detalhes sobre as políticas que os candidatos propõem se não fosse o jornalismo analítico?
As estórias eram pegadas de vários ângulos, o que reflectia a diversidade dos vários órgãos de comunicação social norte-americanos. Da direita para esquerda; do norte ao sul; de leste ao oeste; os artigo e opiniões variam e de que maneira!!!! Houve debate e os candidatos foram postos à prova. Quem saíu a ganhar com essa diversidade e variedade de debate foram os eleitores. Evidentemente que houve candidatos cuja intento na campanha era amedrontar os eleitores; houve mentiras, meias-verdades; que foram rapidamente contrariadas pela outra campanha e vice-versa. Através dos norte-americanos vi como uma campanha funciona e deve funcionar, e fui me apercebendo das nuances entre estratégia e táctica da campanha.
Foi bom que os jornalistas fizeram questão de indicar isso: esta manhã fiquei um pouco receoso quando uma colega jornalista acompanhando a campanha da Frelimo disse-me que preferia antes estar na da Renamo porque podia escrever “tudo”; não pude entender porque não podia escrever “tudo” que via e ouvia na campanha do candidato da Frelimo.
O que quero dizer é que as eleições norte-americanas foram uma boa ocasião de aprendizagem; espero que a classe jornalística moçambicana faça um bom trabalho de informar e enformar de modo a que os eleitores entendam melhor as posições dos candidatos, e que a democracia nascente moçambicana cresça mais.
Daqui há 18 dias hei-de saber se como jornalistas desempenhamos a nossa função de modo a atingir esse desiderato ou se ainda insistimos na mediocridade.
De facto, o processo eleitoral americano foi fascinante. Confesso que foi pela primeira vez na minha vida que acompanhei de tintim-atintim através da cnn e outros canais. fascinou-me o rigor, o empenho dos candidatos, o apoio e esforços dos apoiantes e a transparencia nas contas. Todos sabiam quanto dinheiro cada canidato tinha para a campanha.
ResponderEliminarCa entre nós: alguém sabe?
Mas será q a imprensa americana foi sempre assim ao cobrir as campanhas eleitorais? Ou estas mereceram mais atenção por haver um candidato não-branco verdadeiramente carismático? deve por isso q se diz estas eleições foram históricas...
ResponderEliminarE segredo Vaz.
ResponderEliminarbom regresso Bayano
Realmente, a transparência nas eleições não começam no dia do voto!
As eleições americanas ensinaram um pouco. Se calhar muitos dos nossos candidatos por cá tiraram ilações da qualidade dos candidatos e suas intervenções
Mas a passos curtos chegamos lá. Temos que aprender a angariar dinheiro e votos... Não esta aqui quem disse
Esperemos para ver
Abraços
Rildo Rafael
Bayano,
ResponderEliminara mim, o que mais me fascinou foi a equidistancia da maioria dos jornalistas (sobretudo os da CNN) em relação as duas candidaturas e espero que a nossa imprensa tenha copiado esse aspecto.
Olha Bayano, fiquei expectante quando soubi que farias uma apresentação hoje no Tivoli sobre advocacia e media. Esperava me encontrar contigo mas infelismente a minha agenda não permitiu que eu lá fosse hoje. Estive lá durante o dia de ontem a discutir com o grupo, aspectos relacionados com a transformação de conflitos num processo de advocacia e infelismente também nao consiguiste passar por lá.
Fica para as proximas oportunidades. Abraço
Então ceifaste os juristas que andam na blogosfera da tal apresentaçãono tivoli? Não querias ser MASSACRADO.
ResponderEliminarSe um/a jornalista diz que acompanhando a campanha da Frelimo não pode escrever tudo, será que de facto escreveria tudo se acompanhasse a campanha da Renamo? Ou esse tudo é em relacão ao que é negativo?
ResponderEliminarTambém gostei de acompanhar o processo eleitoral, ainda que não muito colada. Seria mesmo bom os nossos jornalistas tirassem algumas liçoes.
ResponderEliminarTambém seria bom se estivessemos a par dos gastos. Ai perceberiamos muita coisa: vota-se nos que tem meios ou nos que trazem opções uteis para os municipes.
caro bayano, não sei se fizeste de propósito, mas acabaste recuperando a questão que deixaste a pairar no ar na última postagem. estás de parabéns! a qualidade dos jornalistas é fundamental, mas não menos fundamental é a qualidade dos leitores. não acompanhei tão bem a campanha eleitoral americana porque o assunto me interessou pouco, mas não sei se concordaria com a ideia de que houve muita qualidade na apresentação das matérias. nas últimas semanas li "newsweek" com alguma frequência (por ter viajado muito de avião!) e notei um posicionamento claro a favor de obama e que feria substancialmente os assuntos. li também, pelas mesmas razões, o "herald tribune" e fiquei com a mesma impressão, embora desta feita tenha notado distância em relação a obama. nos intervalos de emissões desportivas passeio, por vezes, por outros canais e calhei algumas vezes com programas na cnn sobre as eleições que me deixaram com calafrios por causa da sua fraca qualidade e ausência de profundidade. tens, contudo, muita razão num outro aspecto. o importante nestas eleições foi a diversidade de fontes de informação. só que a qualidade depende dos consumidores. em moçambique vai se noticiar melhor quando o público quiser melhor. e isso diz respeito à política também. a sua qualidade aumenta com a melhoria da nossa capacidade crítica.
ResponderEliminarcaros,
ResponderEliminarmuito obrigado pelos comentários. acho que já notaram que não tenho respondido com a mesma frequência. ainda não consegui adaptar-me ao novo regime (novas responsabilidades), mas já estou conseguindo, pelo menos, postar uma ou duas vezes por semana.
vaz, enquanto os jornalistas não dominarem a lei do financiamento dos partidos políticos e tenham acesso às contas destes, nunca saberemos. eu penso que convém aos partidos não haver muito escrutínio sobre as suas fincanças e sua proveniência.
kanino, a imprensa norte-americana nem sempre foi assim. foram precisos anos de luta. não estou a dizer que são isentos. continua a haver parcialdade, mas como leitor já sei o que esperar.
caro rildo,
ResponderEliminarsim, espero que tanto os jornalistas como os políticos tenham aprendido algo. como diz o outro: yes we can
caro jorge,
a equidistância depende da distância em que nos posicionamos psicológica e emocionalmente, o que é o mesmo que dizer que o que é carne para uns é veneno para outros. talvez o mais importante a reter é que há colegas que esforçam-se em serem imparciais. mas não o são ao de todo.
por acaso também tinha a sensação de que o tivoli era o local para nos encontrarmos, mas debalde, eu apenas fui no último dia. até perguntei por ti à alguém da cerpre, mas não sabiam dizer-me nada- fica para próxima.
caro matsinhe,
nem por isso. tento andar bem preparado nestas questões. aliás, uma outra perspectiva é sempre bem vinda.
caro reflectindo,
ResponderEliminara tua pergunta é difícil. penso que há certas decisões que cabe ao indivíduo saber responder à sua imagem no momento. a questão que talvez devemos colocar é se somos suficientemente honestos intelectualmente para reportarmos sobre o que vemos e ouvimos, e que a nossa consciência nos diz ser de utilidade pública.
cara ximbitane,
essa coisa dos gastos tem muita a ver com transparência. apesar dos defeitos que o sistema norte-americano tem, pelo menos é transparente o suficiente para sabermos como é que são gastas as contribuições dos eleitores. isso obriga-me a procurar a lei sobre as financças dos partidos políticos para ver o que se pode fazer. não sei se o exercício que o cip está a promover irá ou não emprestar mais transparência ao processo.
bom fim de semana
caro elísio, escrevi esta postagem ainda reflectindo no desafio que lançaste. aás, foi por isso que lancei um desafio aos outros se somos o que lemos. cais ainda não parei a reflexão. concordo contigo que a qualidade dos leitores é fundamental. pnso que quanto maior o público for exigente exigente, mais crescem os jornalistas, políticos e mesmo académicos.
ResponderEliminaragora, não sei se a falta de exigência e rigor não seja um derivado do “sistema”; teríamos talvez que olhar para as condições estruturais de ensino e não só. haverá alguma ligação entre a falta de exigência e a cultura da televisão (quero dizer, a proliferação dos pop idols)? qual é a folosofia cultural do actual governo moçambicano? o quê fazem as diversas associações que promovem a literatura? enfim, acho que ainda é cedo para se recuperarem as coisas. eu próprio começo por mim: não me recordo quando é que foi a última vez que li um livro de um autor moçambicano que fosse mesmo virado à literatura; se não leio moçambicanos, imagine portugueses ou brasileiros. infelizmente, tenho um viés contra a lingua portuguesa que devo ter adquirido nos meus processos formativos. mas vou tentando. este parêntesis era para dizer que a exigência virá quando nos apercebermos da diversidade de artigos e livros, e ao mesmo tempo sabermos separar o trigo do joio.
concordo contigo que houve muito favoritismo a favor de obama. até cheguei a ficar inclinado a concordar com a teoria de conspiração de um tio meu que dizia em julho que obama ganharia porque era produto dos poderes estabelecidos – a velha teoria dos donos do mundo que pertencem a uma organização secreta. obrigou-me a ler alguns dos tomos de comunicação social sobre o branding; foi bom porque fazendo isso podia ter uma explicação científica do fenómeno e não escudar-me atrás das teorias de conspiração. mas o que apercebi-me dos média norte-americanos é que debatiam esse favoritismo a cada passo, e não se mentiam. acho que é isso que falta entre nós: a cultura de debate!