segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Boas Festas!

Estamos de novo naquela altura do ano. Os agregados familiares já começaram a fazer as compras que as permitirão passar de forma condigna (?) a quadra festiva. os comerciantes já esfregam as mãos, tanto é o dinheiro que certamente vai circular pelas suas mãos.
Os mais afortunados não vêem a hora dos escritórios fecharem para rumarem para os seus destinos preferidos; sejam eles dentro ou fora do país. Afinal trabalharam duro durante o ano que em breve vai findar!
Se o peditório ainda não começou, não vai tardar. É que quase todo o mundo vai competir para ser os primeiros a dizer “Boas Festas”. Porquê peditório? Em Moçambique, “Boas Festas” parece transcender o simples gesto e expressão social de desejar ao próximo que desfrute do melhor na quadra festiva. Em Moçambique, dizer “Boas Festas”, pelo menos no Ronga da minha mãe e em Português, significa um pedido: peço que me ofereça algo!
Não sei como surge esta prática, mas sei que cria algum constrangimento porque parece obrigar o(a) “boa festado(a)” a abrir os cordões da bolsa para oferecer seja lá o que for. Bem, a prática já pegou e, de algum modo, isso cria uma pressão social.
“Boas festas” encerra em si uma cultura de reciprocidade, onde o enunciador parece desejar (?) ao outro um bom desfrute (quando na realidade, em muitos casos, está a pedir que se lhe ofereça algo) e o outro ao dizer obrigado, vê-se obrigado (desculpem-me o pleonasmo) a oferecer-lhe algo.
Não sei se existem penaltes sociais para quem falha produzir a oferta após ter sido graciado com o “Boas festas”. Ao nível pessoal, houve velhas vizinhas que atormentaram-me durante toda a quadra festiva que tive que arranjar formas de me manter invisível na vizinhaça; ou ser o primeiro a pedi-las.
Será que quem me deseja “Boas Festas” tem direitos sobre mim? O pedido, em si, é normativo ou prescriptivo? Moralmente, é apropriado que me recuse a oferecer seja o que for após ouvir o “Boas Festas”? o que significa o acto de ofecerer (diga-se após ser obrigado)? Qual é a intenção moral dos participantes nesse tipo de transacção?
Bem, se me ouvirem a dizer “Boas Festas”, não se sintam pressionados a oferecerem-me seja o que for porque estou apenas a desejar-vos que desfrutem as festas da melhor forma possível e que tenham um próspero ano novo.
PS: Eduardo Fernando Chabana, Chefe do Departamento de Trânsito no Comando Geral da Polícia, apelou à PT para que não peça “Boas Festas”.

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